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Lendas e Tradições

A Lenda da Fundação de Ançã
No século VII, num dia de Verão de sol escaldante, oito monges enviados pelo Patriarca do Ocidente S. Bento, chegaram a Ançã. Os monges, fatigados da marcha, acamparam à sombra de uma árvore, numa colina, na mesma colina onde mais tarde se ergueria a Capela de S. Bento. Os monges desembrulharam os alforges, deles tiraram o pão endurecido e o queijo cabreiro, fresco, embrulhado em folhas verdes. Em seguida agradeceram a Deus tão luminoso dia e tão saborosa refeição. Olharam em redor, admiraram a pequena ribeira a seus pés, a fresca vegetação, o Monde Alto e, ao sul, a delicada mancha azulada da Serra da Lousã. Foi então que por cima deles passou, vindo não se sabe donde, um bando de corvos rebrilhando de negridão, voando em linha recta para norte, e, em certo ponto, mergulharam por uma abertura na floresta. Os monges não tiveram dúvidas, o Senhor mostrava-lhes o local exacto da nascente e as terras excelentes para o estabelecimento de um povoado. Os monges abateram árvores, ergueram cabanas, cultivaram terras e em breve surgiu um povoado – Ançã, cujo nome queria dizer abundância de água.
 
A Lenda da Construção da Capela de S. Bento
Corre em Ançã uma interessante lenda acerca da construção da Capela de S. Bento.
Conta-se que um dia uma mulher ia à furna de uma encosta, ao lugar onde actualmente se encontra a capela de S. Bento, buscar casira – calcário que se esfarela e que misturado com água serve para pavimentar lareiras, eiras e as próprias divisões térreas das casas mais humildes. Quando a mulher se preparava para apanhar a caeira, com a qual iria arranjar a sua modesta lareira, viu uma imagem de S. Bento. Espantada, corre à vila e conta o que encontrou. O Pároco organizou então uma procissão e foi buscar a imagem do Santo, colocando-a num altar da Igreja Matriz. Porém, no dia seguinte, todos verificaram, apavorados, que a imagem do Santo desaparecera. Procuraram e vão encontrá-la na mesma furna onde a mulher a tinha achado.  Daí por diante várias procissões se organizaram para reconduzir a imagem à Igreja Matriz.
Mas, de noite, inexplicavelmente, a imagem sempre voltava para o mesmo sitio. Então, todos viram que S. Bento queria ficar naquele local e ali mesmo lhe ergueram uma Capela – a Capela de S. Bento.
 
A Lenda de S. Bento Casamenteiro 
S. Bento é o Santo que mais devotos tem. É o mais milagroso, é o santo que atende os mais variados pedidos. S. Bento é o santo casamenteiro. As raparigas que querem arranjar noivo, dirigem-se à Capela de S. Bento. Primeiro rezam, depois dão três voltas à Capela, sem rir, nem falar, e o desejado noivo aparecerá. Se assim não acontecer, prendem S. Bento com um cordel, o que se faz envolvendo a Capela com um cordel, o qual em seguida é atado. Depois rezam. Então é fatal. O noivo aparecerá dentro em pouco.
S. Bento Livra Ançã da Peste
Uma grave epidemia grassou, durante um longo espaço de tempo, em toda a região. O povo de Ançã, sempre muito devoto a S. Bento, pediu a sua intercessão para afugentar a peste. S. Bento escutou o povo e, em poucos dias, a peste desapareceu. Registaram-se a S. Bento, ter-lhe-ia erguido a Capela, de que é orago, como se lê na inscrição aposta sobre a porta principal, à qual já nos referimos ao descrever esta Capela.

ESTA S(AN)TA CASA SE FEZ DE
ESMOLAS NO ANNO DE 1599
NO QUAL AVENDO A PESTE GERAL
EM TODO ESTE REINO HE DURANDO
NELE POR MVITO TEMPO NESTA VILLA
POR INTERCESSÃO DO GLORIOSO/S. BENTO NÃO DVROV MAIS Q(EU). VINTE DIAS
 
A Relíquia do Pão e Queijo 
A parte religiosa da festa do Aniversário de S. Bento prolongava-se até muito tarde. Então os senhores Padres levavam, para si, uma pequena merenda, geralmente pão e queijo. As crianças não resistiam ao sacrifício de os verem comer e então os Padres repartiam com eles o pão e queijo. Daqui teria nascido o costume de se distribuir, todos os anos, após as cerimónias religiosas, pequenos bocados de pão e queijo, não só às crianças, mas a todos os fiéis. 
Esta dádiva tomou porém o valor de relíquia e como tal a guardam, pelo menos as pessoas crescidas. Diz o povo que, por virtude deste Santo, o pão, a “Relíquia” jamais apanha bolor. Na verdade já observámos várias vezes esse facto – o pão fica de uma ano para o outro sem que o bolor dele se apodere. Fica rijo, mas sem qualquer mancha de bolor.
 
Lenda do Marquês de Cascais
Conta a lenda que o Marquês de Cascais, desterrado na sua casa de Ançã, por D. Pedro II, sentira, um dia, grandes saudades de Lisboa e do palácio que ali possuía.  Então, mandou juntar grande quantidade de terra de Ançã e,   com parte dessa terra, polvilhou o estrado da liteira que o conduziu a Lisboa. A outra parte levou-a para o palácio de Lisboa. Quando chegou ao Palácio, mandou distribuir pelo pavimento das salas a terras que trouxera de Ançã.
D. Pedro teve conhecimento que o Marquês abandonara o local do seu desterro, e interrogado por mandado do rei teria respondido “desde o meu desterro não deixai de calcar e pôr pé na terra do degredo”.
 
Lenda das Almas Penadas da Encruzilhada do Monte Tinhoso 
No Monte Tinhoso, na estrada para S. João do Campo, numa encruzilhada apareciam “almas do outro mundo”. Soube-se depois a causa da lenda. Uma bela senhora, viúva ainda nova, mantinha amores com um fidalgo. Para afugentarem curiosos, cobriam-se com um lençol branco. Apesar de esclarecida a origem da lenda, ainda hoje, ninguém ousa passar, ao anoitecer, à encruzilhada do Monte Tinhoso.
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